5 de dezembro de 2008

Santo Anselmo



Filósofo, teólogo, prior (1063) e abade (1078) de Bec, na Normandia, e, por último, arcebispo de Cantuária (nasceu em Aosta, em 1033/1034, faleceu no mosteiro de Bec, em 1109), uma das figuras mais humanas e atraentes de toda a Idade Média, que o agraciou com o título de Doutor Magnífico.
Como abade, Santo Anselmo empenhou-se na reorganização da vida monástica, distinguindo-se, dentro e fora do mosteiro, pela agudeza da inteligência, afabilidade de trato e santidade de vida. Nomeado arcebispo de Cantuária em 1093, promoveu a reforma do clero, as formas tradicionais do culto e da liturgia, lutou ardorosamente pela liberdade da Igreja na Inglaterra, o que lhe acarretou não poucos dissabores e o exílio por duas vezes.
Doutrina - Santo Anselmo continuou e desenvolveu o método rigoroso de Lanfranco, utilizando largamente a dialéctica na exposição da doutrina revelada em obediência ao princípio augustiniano da fé à procura da inteligência (fides quaerens intellectum). A sua síntese doutrinal impõe-se na história do pensamento, tanto pela variedade dos temas abordados - inteligência da fé, existência e atributos de Deus, criação, rectidão, verdade e justiça, graça e liberdade, etc. - , como pela profundidade e originalidade com que são estudados.
Toda a sua obra reflecte o esforço do crente que procura descobrir o rosto de Deus tanto no mistério da sua vida íntima como nas criaturas, que são sua imagem ou ainda nos acontecimentos providenciais da história. A palavra de Deus é assumida como fonte primeira e critério último de toda a especulação anselmiana. Nas Escrituras encontra a dialéctica racional o seu ponto de apoio, o seu estímulo e a sua garantia. Por sua vez, o movimento dialéctico é alimentado pela exigência de rectidão, de tal modo que a fórmula já referida se pode converter nesta outra não menos significativa - a fé à procura da sua rectidão (fides quaerens rectitutinem). Esta ideia, colhida, ao que parece, em São Gregório Magno, surge expressamente formulada no diálogo Sobre a verdade, redigido pouco depois do Proslogion, em íntima conexão com as ideias de verdade e de justiça em Deus e nas criaturas. A partir desta intuição primeira e fundamental, Santo Anselmo construiu uma síntese em que filosofia, teologia e espiritualidade se conjugam harmonicamente na construção da sabedoria cristã. Importa salientar, no entanto, que ao conceder estatuto racional às verdades da fé, Santo Anselmo teve em vista não tanto construir uma apologética como, sobretudo, satisfazer o ardor da contemplação.
Por diversas vezes e em diversos lugares deparamos com o princípio do crer para compreender e do compreender para mais e melhor amar. Este ardor de contemplação mística explica a procura para os mistérios da fé não já de razões de simples conveniência, mas de “razões necessárias”. Contudo, importa não esquecer que a confiança depositada na razão é sempre determinada e medida pela solidez da fé. Precisamente, o mérito de Santo Anselmo reside no perfeito equilíbrio que soube manter entre a natureza e a graça, entre a razão e a fé.

Para ler o restante texto que foi publicado na LUSOSOFIA.NET com a benévola e graciosa autorização da Editorial Verbo, onde a obra integral do Professor Manuel Barbosa da Costa Freitas foi editada:
O Ser e os Seres. Itinerários Filosóficos, 2 vols., Editorial Verbo, Lisboa, 2004 (1º Vol., pp. 92-96).

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