7 de dezembro de 2008

A REFORMA ‘EUCARÍSTICA’ DO CONCÍLIO VATICANO II VISTA DENTRO DO CONTEXTO HISTÓRICO GERAL DA LITURGIA (1)


Já celebramos os 40 anos da Constituição “Sacrosanctum Concilium” sobre a Sagrada Liturgia (SC), do Concílio Vaticano II, publicada no dia 03.12.1963. Por ocasião do 40o aniversário deste importante documento conciliar, a Dimensão Litúrgica da CNBB promoveu inúmeros encontros de estudos pelo Brasil afora em torno da Liturgia renovada pelo concílio. O mais importante deles foi o Seminário Nacional sobre a Constituição sobre a Sagrada Liturgia, acontecido nos dias 10 a 13 de março de 2003, em São Paulo. Tais encontros ajudaram muita gente a tomar consciência sobre o sentido e a importância da reforma litúrgica do Vaticano II. E também ajudaram muita gente a se aprofundar ainda mais sobre o alcance teológico-pastoral da reforma, bem como serviram de incentivo para levar adiante o sonho litúrgico concílio...
Estamos diante de uma Constituição sobre a Liturgia. Todos sabem o que significa isso: uma Constituição! Temos a nossa Constituição Federal, isto é, a Carta Magna que espelha o rosto da Nação e rege a vida em comum do povo brasileiro. As Ordens e Congregações Religiosas têm suas Constituições Gerais, isto é, a Carga Magna que espelha o carisma próprio de cada uma e rege a vida em comum de seus membros. E a Constituição sobre a Liturgia? É a Carta Magna que, com seus princípios teológicos e pastorais, espelha, ilumina e orienta a vida litúrgica da Igreja que, em milhares de comunidades pelo mundo afora, se reúne para celebrar e viver a Páscoa de Cristo e, em Cristo, a nossa páscoa.
O segundo capítulo da “Sacrosanctum Concilium” trata especificamente da Eucaristia (cf. SC 47-58), sobre a qual estamos estudando. Mas atenção: não podemos abordar a Eucaristia apenas se atendo a este capítulo! Pois o primeiro capítulo (que apresenta os princípios gerais: Natureza e importância da liturgia na vida da Igreja, formação e participação litúrgicas, a reforma litúrgica, a vida litúrgica nas dioceses e paróquias, a pastoral litúrgica), no fundo também fala dela enquanto celebração pascal. Este primeiro capítulo é fundamental para uma correta compreensão da Eucaristia renovada pelo Vaticano II.
Mas antes, há que se tratar da reforma ‘eucarística’ do Concílio Vaticano II vista dentro do contexto histórico geral da Liturgia. E é o que vamos fazer aqui. Trata-se de uma primeira abordagem, a meu ver, de suma importância, pois nos possibilita intuir e perceber com maior nitidez três coisas. Primeiro: O por quê da reforma do Vaticano II. Segundo: O por quê das dificuldades na implantação da reforma em nosso meio, não obstante os 40 anos já passados. Terceiro: Motiva-nos a levar mais a sério a orientação teológico-pastoral do concílio no que diz respeito, no nosso caso, à reforma ‘eucarística’.
Para tanto, veremos primeiro, sinteticamente, algumas características da eucaristia (sua celebração e compreensão) no primeiro milênio da era cristã. Em seguida, em paralelo a estas, destacaremos as “mudanças” acontecidas no segundo milênio, o que vai naturalmente nos acordar para o alcance teológico-pastoral da reforma ‘eucarística’ do Vaticano II.

* Frei José Ariovaldo da Silva é frade franciscano, doutor em Liturgia pelo Pontifício Instituto Litúrgico “Santo Anselmo” de Roma. Atualmente é professor de Liturgia no Instituto Teológico Franciscano, em Petrópolis (RJ). Também assessora cursos de Liturgia (Atualização, Especialização) na Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo. É membro da Associação dos Liturgistas do Brasil (ASLI), da qual foi primeiro presidente. Faz parte da equipe de reflexão da Dimensão Litúrgica da CNBB. Faz conferências e presta assessoria em cursos, seminários e semanas de Liturgia em paróquias e dioceses pelo Brasil afora. Publicou O movimento litúrgico no Brasil. Estudo histórico (Petrópolis, Vozes, 1983) (= sua tese doutoral), e O domingo, páscoa semanal dos cristãos. Juntamente com Ione Buyst publicou O mistério celebrado: memória e compromisso (= Coleção Livros Básicos de Teologia 9) (Valencia/Espanha – São Paulo, Siquem – Paulinas, 2003). Juntamente com Pe. Marcelino Sivinski organizou a publicação Liturgia, um direito do povo (Petrópolis, Vozes, 2000). Tem colaborado em várias obras coletivas, bem como para as revistas Grande Sinal (Petrópolis), REB (Petrópolis), Revista de Liturgia (São Paulo). Atualmente escreve mensalmente um artigo relacionado à Liturgia para a revista Mundo e Missão (São Paulo).

Sem comentários: