6 de dezembro de 2008

Ecclesia de Trinitate, De onde vem a Igreja


A concepção de Igreja predominante na teologia católica anterior ao Concílio Vaticano II caracterizava-se por aquilo que Yves Congar descreve como "cristomonismo". A expressão evidencia a atenção privilegiada que se dispensava aos aspectos visíveis, «encarnacionistas» da Igreja, em detrimento da dimensão mistérico-sacramental, segundo a qual o visível é evocação, sinal e instrumento de uma realidade visível mais ampla e fecundante.

O primeiro capítulo da constituição "De Ecclesia" (Lumen gentium) representa o resgate da profundidade trinitária da Igreja: "De unitate Patris et Filii et Spiritus Sancti plebs adunata" (São Cipriano). A Igreja provém da Trindade, é estruturada à imagem da Trindade e ruma para o acabamento trinitário da História. Vinda do alto ("oriens ex alto"), plasmada pelo alto e rumo ao alto ("Regnum Dei praesens in mysterio", LG3), a Igreja não se reduz às coordenadas da história, do visível e do disponível.

A Igreja vem da Trindade: o universal desígnio salvífico do Pai (LG2), a missão do Filho (LG3), a obra santificante do Espírito (LG4) edificam a Igreja como «mistério», obra divina no tempo dos homens, preparada desde a origem ("Ecclesia ab Abel"), reunida pela Palavra encarnada ("Ecclesia creatura Verbi") sempre de novo vivificada pelo Espírito Santo (Igreja, templo do Espírito Santo).

A Igreja é ícone da Trindade Santa: por uma "não-medíocre analogia", ela é comparada ao mistério do Verbo encarnado (LG8), na dialéctica do visível e do invisível, ao mesmo tempo que a sua "comunhão" - una na diversidade das Igrejas locais, dos seus carismas e ministérios - reflecte a comunhão trinitária (cf. LG II-IV).

A Igreja orienta-se para a Trindade: é Igreja dos peregrinos na conversão e reforma contínuas ("Ecclesia semper reformanda") em comunhão com a Igreja celeste, preparando-se desde já para a glória final (cf. LG VII, VIII).

Bruno Forte, Ecclesia de Trinitate, De onde vem a Igreja, da obra "A Igreja Ícone da Trindade"

Sem comentários: