16 de abril de 2008
Síntese da Fé Católica - Apresentação
Eis um texto breve sobre a fé cristã,
Intencionalmente, ficou-se naquilo que parece essencial. Quase diríamos: o essencial do essencial. O núcleo, por assim dizer. O de hoje e de sempre - imutável, irredutível.
Publicar um resumo da fé, sem dúvida é temerário, tendo em conta o coeficiente pessoal e o carácter sistemático que afectam inevitavelmente este género de ensaio. No entanto, fazendo eco ao pedido premente de numerosos fiéis, teólogos eminentes fazem votos que ele apareça, ou propõem até esboços de como deveria ser.
No ano da fé, deve correr-se o risco. Pelo menos, procurar-se-à não apresentar, sob pretexto de se limitar ao essencial, uma doutrina diminuída. Trata-se de «concentração» (o termo é do P. Rahner) ou de «reestruturação» (expressão do P. Congar); de modo algum de redução.
Não se sublinham os traços novos do rosto histórico da fé, muito embora se esteja convencido da necessidade de tal «novidade», como condição de fidelidade. Nem sequer se tem em conta o que se chamou «aggiornamento». Não se menciona, senão de passagem, a mudança da civilização, o prodigioso poder da ciência, a crescente capacidade do mundo para resolver os seus problemas sem, para tal, fazer apelo a um além. Sobre estes temas, bem importantes por certo, a literatura religiosa actual é abundante. Por vezes até em excesso, quando não evita dar o flanco a acusação de oportunismo. «O mundo de hoje - dizia Camus - reclama dos cristãos que permaneçam cristãos».
Sobretudo: deixam-se de lado os aspectos marginais da fé, mesmo algumas verdades certamente dogmáticas, mas «segundas», relativamente aos fundamentos. Do ponto de vista da ortodoxia, não há nisto dificuldade alguma, visto quer o próprio Concílio Vaticano II afirma: «Há uma ordem ou "hierarquia" das verdades da doutrina católica , em razão da sua diversa relação com os fundamentos da fá cristã». Em compensação, a vantagem do ponto de vista da fé salta aos olhos. É sabido como muitos homens de boa vontade acham longo e complicado o que pensam dever saber e compreender para se poderem dizer crentes. Mesmo o catecismo mais reduzido é ainda demasiado complicado e longo para eles, mesmo quando se abstêm de vulgarizar - ou infantilizar - o abstracto.
Quando o essencial e o acessório são postos no mesmo plano, o acessório levanta à inteligência mais questões difíceis que o essencial.
Uma verdade mal situada constitui - indevida ou exageradamente - problema. Muitos esgotam-se aí, por vezes sem outro resultado além de um cepticismo que alastra pouco a pouco e leva à impossibilidade, de facto, de acreditar - e portanto à obrigação moral de não acreditar.
A não ser que se caia no fideísmo, verdadeiro flagelo dos tempos modernos e cujas consequências são tanto de temer relativamente à inteligência como à prática: dogmatismo por um lado, autoritarismo ou mesmo totalitarismo por outro. E também arcaísmo. O acto de crer, mais do que qualquer outro, deve ser justificado. A razão também tem parte no acto de fé. Senão, crer seria imoral, porque a consciência manda, antes de mais, obedecer à razão.
Síntese da Fé Católica - Editorial A O
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