“O estado de graça é o sentimento de presença universal.
Estar em graça é olhar o Universo daquele invisível centro de amor, que é o seio de Deus.
Estar em graça é parar suspenso no meio do ruído a ouvir vozes das bandas do Silêncio.
Estar em graça é ir devagar na Solidão a conversar com o invisível, a encher de humanas palavras amorosas todo o Espaço sem voz.
Na Solidão e no Silêncio, ali onde a nossa atenção se volta no sentido do oculto, a Graça tece, de tenuíssimos e misteriosos fios, as ligações que prendem a multidão rumorosa, medita o verbo, que é o pão e o amor de todas as bocas.
E a Graça, em excessivo além dos sentidos, é simplesmente a absoluta e infinita presença. Enche a Solidão e Silêncio, mas de presença inefável, universal contacto amoroso, onde as formas se diluem e a comoção interior é a fremente quietação dum beijo sem lábios.
Tão para além dos sentidos, tão pura presença é a graça que todo o movimento se encerra, e a plena posse é, agora, o perfeito e absoluto contacto.
É a serenidade em subtil e invisível corpo de amor, vagueando no Silêncio e na Solidão.
De tudo o que para nós é a vida, resta a Presença, sem formas, nem limites… Tocada a Presença, logo a solidão se faz companhia!
Essa presença é o Amor, e, por isso, o seu corpo subtil é de femininas formas, delicado e etéreo. A Graça nós a vemos, para além dos olhos, imponderável corpo de Mulher, vagueando na imensa Solidão do Espaço.”
Leonardo Coimbra, "A Alegria, a Dor e a Graça" in "Obras Completas", Vol. III, págs. 200-201, Lisboa, UCP/INCM, 2006
9 de dezembro de 2007
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